Na coluna que assina no Guardian, Simon Reynolds dá conta de uma nova geração de entusiastas de fanzines que estão a reagir à cultura digital.
Os blogs/webzines podem ser mais rápidos, mais acessíveis, mais económicos e até mais ecológicos, mas nada parece bater a sensação táctil do papel - tal como o poder imperioso do vinil em relação à imaterialidade do mp3. Na era das webzines, blogs e mp3s, são os artefactos culturais físicos (mais personalizados e de distribuição limitada, como as fanzines) que se revelam mais atractivos.
Mas Simon Reynolds assinala que nem todas as cabeças ao comando das novas fanzines se demonstram tão zelosas à superioridade do analógico sobre o digital. John Eden, o (até agora) editor da britânica Woofah, reconhece que, afinal de contas, a música coberta pela revista (grime, dubstep, reggae/dub) vive dependente da tecnologia computadorizada.
A Woofah já chegou à terceira edição, com 60 páginas A5, capa a cores, sem conter publicidade nem press releases regurgitados e sobrevivendo apenas no suporte papel (o web site fornece apenas indicações, a revista não está disponível para download).
No número mais recente, a revista alarga as habituais fronteiras geográficas, com entrevistas à equipa americana The Bomb Squad (na capa) e aos projectos Twilight Circus e 2562 (estabelecidos na Holanda), além de um olhar ao asilo Bellevue, em Kingston.
Na entrevista, os Bomb Squad queixam-se do ridículo e da redundância da designação "dubstep", preferindo chamar "dub-bass" à música que agora fazem («the bass has its own melody and its own song, so you can almost hear vocals within the bass»). Consideram que o hip-hop está estagnado e que o dubstep respira agora o vibe underground que pertencia ao rap/hip-hop. Twilight Circus receia que o dubstep esteja a solidificar-se num "estilo" que o possa tornar menos aberto. Por contraste, descreve o dub como algo infinito e ilimitado, como uma espécie de "cubismo musical abstracto".
Numa entrevista enquanto membro do colectivo Dusk & Blackdown, Martin Clark mostra-se entediado com o panorama monocromático do dubstep («"dark" and "hard" as some kind of pointless end unto itself»). Daí a necessidade de beber de diferentes culturas, nomeadamente mantendo o diálogo com o grime - através da colaboração com MCs, que são «uma parte essencial da voz das margens de Londres». Martin Clark recorda o impacto do tempo que passava no estúdio em que o Boy in Da Corner estava a ser gravado (um disco que é, certamente, um dos melhores e mais importantes desta década), onde viu "Fix Up, Look Sharp" quando era apenas um "4 bar loop" num ecrã.
Mais à frente, na Woofah, Flow Dan (que, através das suas crews e colaborações, estabelece a ponte entre o garage, grime e dubstep) reflecte sobre a voracidade de Wiley («it's too big for himself sometimes») e sobre In At The Deep End dos Roll Deep (2005), que para muitos foi um álbum demasiado pop e insuficientemente grime. A crew parecia saber exactamente o que queria, mas a editora tinha ideias diferentes - «because the whole process was new to us we listened to them more than we should have...». E o Wiley não achou piada nenhuma a que considerassem que os Roll Deep tivessem ficado mais "soft" («he took it personally»).
Em destaque na revista estão os discos An England Story (compilação) e London Zoo de The Bug - o primeiro conta a história de como se chegou até ao presente e o segundo lança pistas para o futuro.
A Woofah custa £4.80 e pode ser comprada no seu site.
1 Comentários:
lovely <3
fico feliz pelo teu regresso
17 de março de 2009 às 03:27
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